segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Fim?

Como consome a alma a dúvida instalada: é como observar a própria felicidade pendendo à beira de uma mesa, na eminência de movimento. Essa agonia corrosiva da espera pela queda, em que a brisa mais leve (ou até o mais simples descaso alheio) é capaz de fazê-la despencar.

Mas como explicar esse brilho que possuem os meus estilhaços de felicidade que repousam ao chão?

(Talvez a felicidade continue eterna, mesmo após todo o impacto...)

domingo, 28 de agosto de 2011

Como culpar o vento pela desordem feita,
se fui eu quem esqueceu a janela aberta?

Sobre indecisões...

Ah, esse coração imaturo que ainda não sabe ser claro ao expressar-se, essa cabeça intransigente que não admite ser deixada de lado nunca, essas palavras inúteis que não se organizam de forma esclarecedora...
Ah, essa batalha interna- e cansativa- que antecede a tomada de decisão.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

(des)ilusões.

Ainda me sinto como um gurizinho quando vejo algo brilhante em meio à escuridão. Por mais racional que seja a minha criança interior, a curiosidade e a fantasia ainda me instigam mais do que qualquer razão ou medo. Naquela pressa disfarçada, as pernas –bambas- caminham sem nem pensar nos passos em falso que se pode dar até que lá se chegue. O que importa mesmo é alcançar o brilho antes que ele ou ofusque os olhos ou apague-se de repente sem que se tenha a chance de chegar mais perto... Nem que seja para descobrir que, no fim, tudo não passava de um inútil caco de vidro.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O ciclo.

Junho anuncia seus primeiros dias com aquele típico ar gélido cumprimentando a face. Ah, essa neblina que ultrapassa o ar e invade os pensamentos, essa geada que devasta meu canteiro de ilusões. Não poderia eu conservá-las até a próxima estação?

“Eu tenho certo apego a essas sementes pobres que plantei mesmo sabendo que não chegarão a florescer”. O vento me reprime com um assovio.

“É verdade, eu tenho apego por que eu mesma as criei. Não importa que as estações as destruam... Há sempre novas estações e novas ilusões adiante.”

O mesmo vento que me afagou os cabelos, derrubou uma das poucas folhas que ainda agarravam-se aos galhos secos. E foi tão bonito ver aquela ilusãozinha desesperançosa planar livre pelo ar antes de (re)pousar no inóspito concreto.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Hoje fazia um dia tão lindo, meu deus, que consegui ver beleza até nas folhas mortas e secas no chão. E o que me importa se o vento ainda seja gélido, se o sol saiu para me dar bom dia?
Era primavera -em pleno outono-, mas floresci.

domingo, 24 de abril de 2011

Sintaxe.

Esperar pela magia das frases bem estruturadas, pelo encanto incômodo das entrelinhas que dizem o que não se deve, pelo mistério e a esperança – que pula de ponto em ponto- nas reticências bem colocadas. Deparar-se com a secura do fim da linha, do período: sentença?

Uma frase solta não se subordina, não se envolve, mas também não pode completar nenhuma outra. Ela por si só se basta, mas é reduzida a seu próprio sentido. Por mais que essa diga tudo o que queira dizer, uma frase só não conta uma história.

Como se contentar com pontos finais se a cabeça sempre monta sentenças mais complexas?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Relatividade.

O colchão cedia devido ao peso -aquele que carregava por sobre os ombros-, que se intensificava quanto mais a hora da partida aproximava-se. Eu me recompunha aos poucos, peça a peça, como se esperasse continuar o sonho interrompido. Acomodei cada botão da camisa em sua respectiva casa, apertei bem o cinto (precisava de segurança) e o nó da gravata, por fim, estrangulou-me com a realidade: o beijo da despedida.
Ainda fiquei a encarar a porta, já fechada, por mais alguns segundos antes de ceder a sua afronta -bem sabia que ela não iria. A minha felicidade era feita em doses precisas, semanais; havia de me conformar. O caminho de volta servia-me como um balde de água fria, retirava-me da entorpecência.
Eram sempre os meus pés os únicos a caminharem sem pressa pela Avenida Paulista. O esforço de competir com a multidão não compensava o prêmio de chegar a casa um pouco mais cedo. Em meio ao fluxo de pedestres, a minha imparcialidade de movimentos deixava-me vulnerável: era carregado. Aprendi a ser passivo, precisava.
Sorrisos amarelecidos, o encostar forçado dos lábios e o tilintar dos talheres à mesa resumiam o que havia se transformado a minha vida conjugal. As refeições e a cama eram as únicas coisas de que ainda compartilhávamos - já não se notava a sincronia nem mesmo no apagar dos abajures. No anel dourado, que lacerava meu anelar, apenas restara melancolia, valor comercial e uma data falhada. A mentira o corroera, eu sabia.
Em verdade, a culpa fora mesmo do meu excesso de sinceridade -comigo mesmo. E por mais que a mentire existisse, eu sabia que era inocente: ela (a outra) era o meu cruzar de dedos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Inconstância.

Não se sentir sozinha sempre a apavorou -ela queria a necessidade, a carência, o desespero em não ter outra pele humana para tocar. Estranhamente recebera o conforto no silêncio absoluto, a evasão como mania incontrolável, a sede por reclusão. Talvez estivesse acompanhada dessa falta há tanto tempo que esta fraqueza sua já lhe suprisse a solidão de estar, na realidade, acompanhada pelo nada. Estar acompanhada, por hora, já lhe era o bastante.

Um medo não pode ser tão forte a ponto de privá-la sempre de tudo -deve (tem que) existir algo mais forte que ele. Essa era a sua verdade, a que acreditava fielmente sem nunca questionar - nunca? Saramago invade, sabiamente afiado: “Não há verdades tão fortes que não possam ser postas em dúvida.”

O nada torna-se algo –maior que essa covardia-, algum dia?