segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Desilusão.

Sinto-me como um vira-lata a farejar qualquer canto em busca de algo verdadeiro. Apenas consigo encontrar os odores do passado e reacendo-os: reviro cada abraço, cada palavra, cada alma. É somente em minha memória que continuam vivos, conformei-me.
Preciso agora de verdade concentrada, injetada nas veias -nem que seja sintética. Qualquer coisa que me livre dessa dependência da sinceridade e constância alheia.
Juro que sabia que nada seria eterno, porém idealizar sempre foi a pior das minhas manias. Elis já alertara-me: o sonhador tem que acordar. Cedo ou tarde.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bússola.

O sol poente a observava de longe e emprestava-na seus últimos instantes de luz. Seu tempo havia acabado: não poderia ali permanecer inerte para sempre. Seus pés, independentes, a guiavam para qualquer lugar a fim de afastá-la do turbilhão de pensamentos que há tantas horas a hipnotizavam. Já perdera tempo demais com a autoflagelação.
A sua culpa ofuscava no céu –abandonada- em meio às primeiras estrelas e bem como elas, continuaria a brilhar mesmo que morta estivesse. Precisaria ainda de seu brilho para, então, orientar-se.

domingo, 12 de outubro de 2008

Requisição.

O assovio dos pássaros que recém acordavam e a luminosidade -em tons alaranjados- do clarear daquele novo dia resgataram as palavras que encontravam-se presas em sua mente. Arrependida, a brisa suave devolvia tudo que outrora havia dela roubado.
E o som que antes conseguia ecoar em seu corpo, abafara-se: já não estava mais oca.