domingo, 28 de setembro de 2008
Sangue do teu sangue.
domingo, 21 de setembro de 2008
Latência.
domingo, 14 de setembro de 2008
Insônia.
Lá fora, o silêncio noturno instalava-se. Como odiava a afonia! O tic-tac do relógio tornava-se a cada minuto mais insuportável; sua respiração; mais profunda e os pensamentos; mais intensos. A voz da consciência lhe zumbiu aos ouvidos, aproveitando-se de sua vulnerabilidade.
Desenterrava seu passado, quanto mais tentava esquecê-lo. Não importava quão cansada sua alma encontrava-se, seus pensamentos estavam ativos, e ele já não conseguia controlá-los. Mantinha os olhos cerrados e sentia aos poucos o estado de dormência em suas extremidades ir esvaindo-se, até encontrar-se, enfim, um corpo completamente inerte e submerso em seu pesadelo. Seu corpo cedera ao cansaço e entregara-se.
E a voz da consciência lhe zumbia aos ouvidos...
Sacolejava à medida que seu sono tornava-se mais profundo. Revivia e alimentava suas angústias e frustrações, todas as noites. E de repentino era despertado pelo estridente alarme do despertador, que o convidava a vencer mais um longo dia. E novamente, apenas suas fraquezas encontravam-se revitalizadas.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Errante desejo.
Lá estava ela, olhando por detrás do vidro como se fosse uma prisão. E era assim como sentia-se naquele momento: presa entre pensamentos que de tão incomuns, parecia não pertencerem a ela. Não conseguia explicar de onde haviam brotado ou o que acontecera. Sabia, apenas, que deixara para trás um pouco de si e agora tudo desabava, escorria, molhava.
Já não sentia o vento nem a chuva como antes, mas aquela nova sensação a agradara. As coisas já não possuíam o mesmo sentido e algumas pareciam não mais encaixar-se. A vontade louca de fugir sozinha para longe ainda pairava sobre sua cabeça, porém ainda sentia-se presa a algumas de suas velhas teorias.
Correria sem rumo, como que para escapar da tempestade que formava-se dentro de si e só pararia quando a chuva também cessasse. Estaria, enfim, perdida o suficiente para ser encontrada. E esperava que assim fosse.
sábado, 6 de setembro de 2008
A menina e o cristal.
Os segundos seguintes, o da (em) queda livre, lhe foram eternos. Como aquele pedaço de vidro lhe era importante! Oscilava entre suas diversas cores, mudando de repentino e nunca seguindo uma seqüência lógica. Quantas novas tonalidades o vidro lhe apresentara –até aquelas que pensava nem exitir- e com elas colorira grande parte de seu mundo. Aqueles segundos, eternos.
O sutil ruído do impacto lhe tilintou aos ouvidos, trazendo-a de volta para o presente. A dura realidade lhe escorreu aos olhos, trincando-lhe a face, úmida por suas lágrimas. Na superfície do vidro, a mesma rachadura: ainda estavam em sintonia. Embora lascado, o cristal ainda escondia dentro de si o espectro infinito das cores que tanto fascinavam-na.
Aquele dia pudera então entender o significado da palavra incondicional.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Refúgio.
Estava, enfim, em casa.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Melancolia eterna.
A neve caía fina, do mesmo modo que suas lágrimas. Estava ele ali, parado ao parapeito da janela –joelhos e olhos cansados- apoiando todo o peso de seus pensamentos na bengala, tão velha quanto seu corpo. O azul cintilante de sua íris brilhava ao fitar a imensidão branca que lá fora instalava-se. Era quase real.
Fazia um ano que, daquela mesma vidraça, ele havia atirado-se. Não sei ao certo se desistira de viver ou se, apenas, buscava viver em um outro lugar. Seus olhos esperançosos me levam a duvidar da primeira opção. Soube que fora deste modo que passara seus últimos dias, observando o nada com olhos fixos e lágrimas que lhe escorriam pela face, desviando de cada ruga. Até, por fim, desembocarem no ar, sem rumo. Percebera que aquele também era seu destino.